Ouse sonhar: lições de inventores e apresentadores mundialmente conhecidos

Barco de brinquedo em Selsey, Kenneth Rowntree

Testemunhamos visionários empresariais como Steve Jobs, cujas apresentações inovadoras cativaram audiências em todo o mundo, lemos inúmeros artigos e livros sobre o assunto e ainda assim nos perguntamos como essas pessoas impulsionam o progresso. E o mais importante, como podemos seguir seus passos?

 

O cerne da questão está na nossa abordagem. O foco do negócio é vender, o que é bastante lógico, claro. Mas em cada estágio do desenvolvimento de produtos, nossas mentes são consumidas pelas vendas. Todos, desde engenheiros a profissionais de marketing, estão imersos em fórmulas, análises e estratégias de publicidade. Esses aspectos são essenciais e valiosos, sim. No entanto, são necessários mais do que estes processos para se tornarem verdadeiros revolucionários da tecnologia e do marketing. Para superar a mediocridade, é preciso transcender o foco singular nas vendas e abraçar ideias e significados acima do lucro.

 

Naquele dia inesquecível em que Steve Jobs revelou um computador pessoal a partir de uma simples bolsa, já existiam computadores mais potentes e produtivos. Avanços futuros também estavam em andamento. No entanto, as pessoas não sonhavam com capacidades de RAM ou velocidades de processador. Em vez disso, ansiavam por computadores pessoais que refletissem a elegância, a conveniência e a estética dos eletrodomésticos do dia a dia, como televisões e gravadores de vídeo.

 

Vinte e três anos depois, quando Steve Jobs subiu ao palco, revelando o primeiro iPhone, já existiam dispositivos móveis “inteligentes” que ofereciam comunicação superior e bateria com maior duração. No entanto, as pessoas realmente desejavam um computador portátil – um dispositivo que realizasse seus sonhos.

 

O ingrediente secreto da Apple era dar vida aos sonhos das pessoas, capturar sua imaginação e entregar o que era imaginado. Mas para conseguir isso, você mesmo deve ser um sonhador.

 

Numa reviravolta acidental, Jobs certa vez fez referência a uma geladeira enquanto contemplava as ideias por trás do Macintosh. É difícil entender agora, mas geladeiras e computadores compartilham uma história de origem semelhante.

 

Antigamente, os refrigeradores eram enormes estruturas industriais encontradas em armazéns ou a bordo de navios. Há um século, mesmo os arquitetos mais inovadores e modernistas não consideravam os refrigeradores ao projetar casas e apartamentos. Em vez disso, incorporaram depósitos ventilados ou câmaras frigoríficas, pois a conservação dos alimentos era um desafio constante, principalmente durante o verão.

 

Apenas alguns afortunados podiam instalar uma unidade de refrigeração doméstica, o que exigia uma sala separada para o motor e o compressor. Foi um assunto complexo e complicado. O sonho de uma geladeira portátil que pudesse caber em um espaço pequeno, do tamanho de um armário, parecia inatingível.

 

No entanto, em 1927, a General Electric introduziu o frigorífico doméstico Monitor-Top – o primeiro modelo de mercado de massa que transformou este sonho em realidade. Apesar de seu alto preço de US$ 525 (equivalente a US$ 7,500 a US$ 8,000 hoje) e da iminente Grande Depressão, o Monitor-Top vendeu mais de um milhão de unidades, impactando profundamente o conceito de conforto, a indústria alimentícia e o design arquitetônico.

 

Steve Jobs tinha um talento especial para encontrar exemplos relacionáveis; um de seus favoritos era a geladeira. Assim como você armazena e recupera alimentos sem esforço, sem se preocupar com a deterioração, Jobs acreditava que os computadores deveriam ser igualmente intuitivos e descomplicados. O foco deve estar em usá-los e não em compreendê-los.

 

Em 1968, Alan Kay introduziu o conceito de Dynabook, um dispositivo que abrange os recursos dos computadores pessoais, laptops, tablets e smartphones atuais. O esboço visionário de Kay continha elementos que mais tarde se tornariam realidade nesses dispositivos. No entanto, na época, tais avanços só existiam na ficção científica.

 

Até mesmo Alan e outros especialistas compreenderam que estavam sonhando, percebendo que o uso generalizado dessa tecnologia estava num futuro distante. A chegada da informatização generalizada dependeu de sonhadores como Jobs e Wozniak, que ousaram ultrapassar limites e transformar sonhos em realidade.

 

Vamos reconhecer que a Apple não foi a única mestre em transformar sonhos em realidade. Outros pioneiros ousaram transformar ideias que pareciam saídas diretamente da ficção científica em produtos tangíveis.

 

Uma enorme onda de entusiasmo cercou o lançamento do celular Motorola DynaTAC 8000X em 1984. Quantos desses clientes ansiosos eram fãs ávidos do intrépido Capitão Kirk e das aventuras de sua tripulação a bordo da Enterprise? Nessas mesmas aventuras, os heróis usavam dispositivos portáteis sem fio para comunicação, ultrapassando os limites da imaginação.

 

Surpreendentemente, a necessidade de criar e levar um telefone celular ao mercado de massa nem era aparente para os futuristas da época. No filme visionário de Stanley Kubrick, “2001: Uma Odisséia no Espaço”, o Dr. Heywood Floyd utilizou um aparelho de cabine especializado para fazer chamadas sem fio. A Motorola arriscou, cobrando salgados US$ 3,995 pela novidade (equivalente a US$ 10,000 mil a US$ 11,000 mil hoje). Mesmo assim, apostaram no sonho e saíram vitoriosos, solidificando Martin Cooper como o “pai do celular”.

 

Este princípio se estende além do domínio da tecnologia da informação. Considere Lee Iacccoca e sua invenção do Mustang. Você sabia que o modelo básico inicial do Mustang não era um cupê esportivo genuíno? Iaccoca aproveitou as aspirações de milhões de americanos (e de outros países) que ansiavam por carros esportivos, mas não podiam pagar os altos preços. Ao criar um carro baseado em um sedã familiar que exalava a essência da velocidade mesmo quando imóvel, Iaccoca cativou os corações dos sonhadores em todos os lugares.

 

Heinrich Nordhoff teve uma visão semelhante quando transformou o Volkswagen Beetle num fenómeno automóvel internacional. Seu sonho era criar um carro que transcendesse o status social e pudesse ser comprado sem preocupação com o julgamento dos vizinhos ou colegas.

 

Os sonhos guiaram os caminhos de figuras ilustres como Thomas Edison, os irmãos Wright, Henry Ford, Guglielmo Marconi e os irmãos Lumiere, impulsionando-os para um notável sucesso comercial.

 

Até agora, você provavelmente já deduziu a conclusão a que estamos chegando: para se tornar um techno guru verdadeiramente bem-sucedido, pronto para gravar seu nome nos anais da civilização e colher recompensas substanciais, você deve ousar sonhar. Abrace ideias que outros imaginem, mesmo que pareçam malucas e fantásticas.

 

Em vez de simplesmente “resolver o problema do usuário” ou “vender um produto”, você deve abraçar a arte de doar sonhos – por uma quantia modesta.